terça-feira, 5 de abril de 2011

O aniversário da garota estranha.

Era dia do seu aniversário e ela se trancou em seu quarto. Não gostava muito desse dia. Sempre se sentira mal. Odiava os sorrisos falsos ao seu redor. Abraços eram por ela repugnados, mas só nesse tal dia. Era sempre a mesma coisa: “Feliz aniversário! Tudo de bom, saúde e paz!” Ela já estava cansada da mesmice. Queria algo novo, mas parecia a ela que as pessoas não tinham criatividade. Surpresa? Não, isso ainda era pior. Achava ridícula a cara de babaca que todos faziam ao vê-la entrar. Mais ridícula ainda era a fotografia que tiravam dela quando acendiam a luz na hora da surpresa. Todos esbanjavam sorrisos, mas ela não. Era fechada, recatada. Sentia certo incômodo por dentro. Ela queria que notassem seu desinteresse por essas coisas banais e prestassem atenção no que ela tinha dentro se si. Ninguém sabia que pequenas coisas eram a ela de grande importância. Que uma simples barra de chocolate ou seu salgadinho preferido a fazia feliz, pela simplicidade e pela lembrança. Que um pouco de atenção bastava. Que a indiferença era uma facada em seu peito. Que o que ela sempre mostrara por fora não tinha absolutamente nada a ver com o que ela tinha dentro de si. Não, ninguém sabia. A achavam estranha, sombria e com certo ar de mistério. Mas ela era assim, desde que nasceu.
Então, sozinha em seu quarto, enquanto algumas pessoas estavam a sua espera na sala de estar, ela se olhou no espelho e riu consigo mesma. Sou louca, doida de pedra, admitiu. Mas gostava de ser assim. Era original. Não existia ninguém assim. Pelo menos ela achava isso. Sorriu para a sua imagem no espelho e se achou estranha, concordando com o que falavam dela. Seu rosto estava diferente. Ela tinha mais um ano de vida para carregar nas costas, até o ano posterior. E assim seria. E foi com seu jeito estranho de ser que ignorou a todos. Cantou parabéns para si mesma, em meio a lágrimas, que não sabia distinguir se eram de alegria ou de tristeza. Soprou uma vela imaginária, fez um pedido, comeu uma fatia do seu bolo de morango, trocou de roupa, apagou a luz e foi dormir. O amanhã era outro dia.
                                                
                                        

Nenhum comentário:

Postar um comentário