sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ao contrário


- Nossa!... Que lugar lindo! Eu nunca tinha vindo aqui! É, uau... simplesmente perfeito.
Eu comentava feito uma criança, entretida com a vista mais linda que já havia me deparado da cidade. Era um previlégio! Dava para se ver tudo, todas as luzes e todas casas. A cidade corria lá embaixo enquanto nós permaneciamos apenas observando daqui de cima. Eu, maravilhada com tamanha plenitude, olhei pra Heitor e deparei com ele me olhando com um sorriso intrigante.
- Incrível, não me lembro de nenhum lugar com uma vista tão espetacular como essa...
- Não? - Ele arqueou as sombrancelhas em um tom de surpresa que me fez duvidar dos meus neurônios. Olhei de novo para a paisagem e vasculhei minha memória.
- Hm... Não, não que eu me lembre.
Aquele sorriso de novo. O que ele queria?
- Que foi? - Sorri junto, meio boba e desconfiada pela malícia que brilhava e crescia em seus olhos.
- Claro que você se lembra daqui... É onde te pedi em namoro. Hoje.
Antes que eu pudesse gaguejar qualquer palavra Heitor aproximou-se de mim, seu corpo fazendo meus pêlos arrepiarem, sua respiração forte e entrecortada, seu olhar atravessou minhas órbitas e me deixou nua até a alma, e seu perfume marcante fez com que uma nova onda de arrepios passasse por mim. Ele ergueu sua mão até minha nuca e, a partir de então, não me lembro de sentir um beijo tão cheio de amor, e uma mão tão forte e carinhosa sobre mim.
Éramos mais nossos do que fomos algum dia.

Passamos pela avenida principal costurando entre os veículos e a noite fria. Eu estava amando toda aquela insanidade. E desejei que Heitor lembrasse o quanto eu era apaixonada por velocidade.  E ele lembrou. Acelerou mais, deixando os faróis, as luzes, as buzinas e os xingamentos alheios para trás. O mundo passava feito um borrão à nossa frente e o vento brincava com meu cabelo, serpenteando-o no ar. Mesmo correndo loucamente, sentia-me totalmente segura agarrada a ele. Esqueci do mundo.
Mergulhei em meus pensamentos, perdi dentro de mim mesma procurando o começo desse amor e o avanço da nossa amizade. Estava tão entretida que mal notei que estávamos desacelerando e que finalmente havíamos chegado ao tal lugar.
Soltei rápido de Heitor, recobrando meu raciocínio e voltando à atualidade. Ele ainda era meu melhor amigo! Entretanto me arrependi em seguida. A sensação daquele abdômen definido inundou minha mente e senti minhas mãos formigarem de êxtase. Mas meu estômago se contraiu quando o pensamento que ele era meu amigo brilhou em minha mente de novo. Estava começando a traçar uma luta mental sobre aquela situação.
- Vamos? – Heitor disse tocando em minha mão e, mesmo hesitando, abriu um lindo sorriso.
Seu toque fez todos os pensamentos desaparecem e a curiosidade aumentar. Aonde iríamos, afinal?
- Claro! – Respondi encantada com seu sorriso. Então ele guardou nossos capacetes e me guiou.
Heitor era lindo, seu sorriso provocava covinhas e seus olhos mesmo apertados brilhavam como faíscas. Naquele instante tomei conta de como não havia realmente reparado nele. Talvez só naquele instante percebi o quanto ele era adoravelmente lindo.
Estávamos numa área afastada do centro, bem próxima à serra. Andamos alguns passos pela grama baixa e subimos um pequeno morro, então fiquei sem ar. Meu coração batia solto dentro do peito, assim como eu me sentia vendo toda a cidade aos nossos pés. 

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