quarta-feira, 23 de março de 2011

Queda livre.

Eu sempre quis fazer um teste, bem anormal por sinal: jogar meu corpo de uma altura considerável, para sentir o impacto. Não sou suicida e nem pretendo ser, longe disso, mas se eu pudesse me jogar desse prédio de trinta andares, sentir o impacto, sentir meu corpo encontrando o chão e não morrer, eu com certeza faria. Faria sem hesitar. 
Algumas pessoas acham que eu gosto de altura, mas não é bem isso. Confesso que morro de medo de cair, mas quando estou em um lugar muito alto como esse, eu tenho uma enorme vontade de me jogar. Sei que a queda duraria poucos segundos, mas eu gostaria que fosse quase eterna. Às vezes penso em ir para o espaço e cair eternamente. 


Eu queria entender o que leva uma pessoa a estraçalhar o seu corpo. Fico imaginando: O que será que se passa na cabeça de um suicida durante os últimos segundos de vida? Será que dá tempo de pensar? Levo essa curiosidade comigo, mas sei que nunca saberei a resposta. O que sei é que eles não podem voltar atrás, como aqueles que cortam os pulsos propositalmente de maneira errada.


Imagino, por vezes, que, enquanto eles estão caindo, um filme de suas vidas passa por suas mentes. Durante três, quatro, cinco segundos, no máximo. Começo, meio e o terrível fim... 
Acabei de ouvir alguém me chamando a atenção. Estou numa sacada de um prédio, olhando para baixo. Há alguns carros numa avenida próxima, mas o que me chama a atenção é a piscina em construção desse prédio. Seria o lugar perfeito para eu cair, até por que é mais profundo... 
Minha mãe disse para eu ficar longe dessa sacada, pois está ameaçada. Ao ouvir essa palavra “a-me-a-ça-da” me deu uma excitação. Seria lindo, eu e sacada caindo. Em direção ao chão, em direção ao fim de tudo. Mas não, eu já falei, não sou suicida. Mesmo se fosse, não faria isso na frente de pessoas que eu amo. 


Fiz o que minha mãe disse, fiquei longe da sacada. O que eu acho impressionante é que deixaram a sacada desse jeito...


Minha prima chegou aqui perto de mim, disse que eu estava distante, ‘com pensamentos na lua’. Comecei a conversar sobre minhas vontades, mas fui logo dizendo que era só uma curiosidade e que eu nunca faria isso. Ela achou isso muito estranho, mas ficou aliviada quando eu disse que era só uma vontade e voltou para o que estava fazendo. Essas pessoas não sabem o que se passa em minha mente e quando ouvem minhas “ideias”, sempre ficam com o pé atrás. Vai entender...
Fui até a cozinha, peguei um copo de vidro e escondi em minha roupa para ninguém notar. Cheguei à sacada do trigésimo andar, coloquei o cronômetro em posição e soltei o copo. Em menos de cinco segundos, o copo se encontrou com o chão e pedaços de vidro caíram para todos os lados. Seria assim com meu corpo? Não, mas eu cairia nesse mesmo tempo, em cinco segundos. 
Deixei todas as minhas imaginações ali naquela sacada e decidi não mais voltar ali, pois se eu voltasse, meus impulsos falariam mais alto.

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